BOMBO LEGUERO
O bombo leguero, instrumento bimenbranófono é
característico do gaúcho argentino, hoje aquerenciado no Rio Grande. Sabe-se
que o tambor é talvez o mais antigo instrumento musical: na noite das cavernas,
algum ancestral nosso bateu por acaso num tronco oco e gostou do som que ouviu.
Hoje o mundo musical no folclore de todos os povos não dispensa algum tipo de
tambor.
Na Argentina são folclóricos dois tambores
bimenbranófonos, de culturas diferentes: a caja, pequena, de origem coya
indígena, e o bombo leguero, bem grande, de origem gauchesca.
Há muitos anos, quando me fiz folclorista à sombra
do mestre Carlos Galvão Krebs, era um purista. Em 1959 a professora uruguaia
Marina Cortina Lampros reuniu em Porto Alegre moças oriundas do balé e uns
rapazes de invernadas artísticas de CTG. Entre eles, Carlos Castillo, Cláudio
Lazzarotto, Jorge Karan, Eri Assenato e eu. Fundou-se o Conjunto de Folclore
Internacional que mais tarde eu vou batizar de Os Gaúchos. Fomos os primeiros a
apresentar as danças folclóricas argentinas aqui. Numa das viagens por Buenos
Aires e Santiago del Estero trouxemos de lá o Eri Assenato, e eu, dois bombos
legueros.
Eri Assenato logo começou a fabricar bombo leguero
aqui entre nós, seguindo o modelo “moderno” do bombo argentino de madeira
compensada. Os primeiros grandes tocadores de bombo leguero entre nós foram
Glênio Fagundes e Bebeto Klotz.
Lá por 1978, eu passava pelo Alegrete, e um
sobrinho meu, guri ainda, se apaixonou pelo bombo que eu havia trazido da
Argentina. Ganhou o instrumento de presente, no qual e tornou um virtuoso.
Nome? Ernesto Vilaverde Fagundes, hoje mestre absoluto no bombo leguero. Pois
agora em fevereiro o Ernesto vai fazer uma viagem ao mesmo tempo sentimental e
cultural. Vai percorrer Santiago del Estero, na Argentina, documentando a
história do bombo leguero, o que vai resultar num vídeo dirigido porRenê Goya
Filho. É plano do Ernesto encontrar o Índio Froilán, internacionalmente
respeitado como luthier de bombo leguero. Também fará parte da caravana o
Paulinho Fagundes, violão altamente respeitado.
Foi para o Ernesto que escrevi os versos no
Festival da Barranca, que meu irmão Bagre musicou: “Sou o guri pelo duro /
Campeando um mundo de amor / E me vou rumo ao futuro / Tendo no peito um
tambor”.
O Ernesto vai em busca das origens do instrumento
que tanto valoriza e das suas próprias origens, como gaúcho brasileiro e
americano.
TEXTO DE NICO FAGUNDES PUBLICADO
NO DIA 16 DE JANEIRO NO JORNAL ZERO HORA
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